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Uma reflexão de ano novo

Vamos começar analisando a diferença entre solidão e solitude. A solidão acontece quando você está só, mas não gostaria de estar. Ela é geralmente relacionada ao sofrimento. Você sofre por estar só ou por se sentir só. Já a solitude acontece quando você também está só, mas consigo mesmo. Um isolamento voluntário.

Esses estados podem confundir algumas vezes. Eu, por exemplo, gosto de almoçar e ir ao cinema sozinho, uma vez ou outra. E não é por falta de companhia. No cinema, com inúmeras pessoas ao redor, estou só, mas porque eu escolhi e não fico triste por causa disso. Já a solidão não é voluntária, gera ansiedade, sofrimento e depressão.

Hoje, quando se está só em algum lugar, parece já ser involuntário o movimento de pegar o smartphone. Você vê a timeline do facebook repleta de pessoas felizes postando selfies, fotos de comida, ou de lugares paradisíacos ou castelos medievais os quais visitaram. Você olha pra tudo isso e pensa: que vida de merda eu tenho. Seus amigos postam fotos de locais em que você gostaria de estar, mas não pode, ou porque não te convidaram, ou porque você não tem dinheiro para ir, ou por qualquer outro motivo. Você estava só, consigo mesmo em solitude, mas abriu o facebook e bateu a solidão.

Acho a solitude algo muito importante nesse mundo conectado, onde é quase impossível ficar sozinho. Quando não consigo ficar só comigo mesmo, então, quem eu sou? Será que eu me conheço? Minha vida está no piloto automático? Ou sou somente um perfil em uma rede social? Tenho quatro mil amigos no facebook, mas na verdade não tenho nenhum. E ainda fico mostrando minha intimidade para milhares de desconhecidos. Mas isso é só a ponta do iceberg.

Acredite, muitas pessoas acham que o facebook é a internet. Elas não digitam mais urls em seu navegador. Elas navegam na internet através do facebook. E isso é um problema? É.

O nosso querido caralivro todos os dias armazena 500 terabytes de nossos dados. Ele sabe do que você gosta, sabe o que você come, sabe os locais que você frequenta. Só mostra a você o que ele decide mostrar, criando bolhas. Já existe uma funcionalidade que serve para você ler artigos externos sem sair do facebook. Comprou o instagram, comprou o whatsapp, já dá pra criar e-commerce. Está dando prejuízo à economia americana, porque rouba o tempo das pessoas. É uma plataforma fechada e nós estamos a mercê de suas regras. Isso tem muito cara de monopólio.

Ou seja, o facebook, além de fazer mal à saúde mental, faz mal à economia dos EUA e provavelmente à do Brasil e está destruindo a web aberta.  Criadores de conteúdo, não terão outra alternativa, a não ser migrar para essas novas mídias sociais ocasionando o fim do hyperlink. Aí adeus web.

Pense a respeito.

3 Comentários

  • marcelioleal

    Algumas outras empresas tambem contribuem pra q o http se enfraqueça. google com o AMP, twitter restrigindo navegacao, instagram sem link em foto, entre outros. Isso é um problema grande. Todo mundo vai ter que se adaptar “à diversas plataformas” ?
    Complicado isso.

  • Thiago Medeiros

    Na verdade, o facebook e qualquer outra mídia social é uma forma de deep web com sereias que seduzem milhares para lá.
    O problema é a “condiminização” cada vez maior da web e dos mercados em geral, hoje em dia as pessoas resolvem tudo dentro de seus condomínios digitais (também conhecidos como walled gardens) que lhes fornecem segurança e uma zona de conforto, aos custos de não encontram pessoas diferentes e de conhecer a diversidade do mundo.

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