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A dor e a delícia de ser diferentão

Introdução

“Habitual; que está dentro da ordem natural das coisas; conforme ao uso corrente; normal, comum, vulgar; costumado; frequente; que não se salienta, mediano; médio; de baixa condição; de qualidade inferior, reles, baixo; grosseiro; mal educado.”

 Significado de Ordinário Por Dicionário inFormal (SP) em 11-09-2007

6 da manhã, toca o despertador do smartphone. Ele olha o display e percebe que o modo soneca irá lhe dar alguns minutos a mais de sono. Então volta a dormir. 15 minutos depois o despertador toca novamente. Ele sabe que possui mais uns 15. Pega o smartphone, desliga o alarme e volta a dormir. Às 6:30 o despertador toca mais uma vez. Mas agora não tem jogo.

Ele levanta com muito esforço e vai ao banheiro. Sua esposa já está na cozinha fazendo o café e preparando as crianças para o colégio. Como um zumbi, ele se veste e toma o café. Deixa as crianças na escola e se dirige a um local o qual ele odeia. Neste local existe uma máquina, onde ele precisa passar um cartão de plástico. Essa máquina registra sua chegada. Ele precisa ser pontual.

Ele fica as primeiras horas da manhã lendo notícias e navegando em redes sociais. Algo que poderia muito bem fazer em casa. Mas por algum motivo ele acorda cedo para fazer isso em um local distante. E Ele precisa ser pontual. Logo após, começa a fazer coisas que outras pessoas dizem pra ele fazer. Muitas vezes, Ele não sabe o motivo de estar fazendo aquela atividade, mas ele faz. Ele sabe que precisa fazer. Ele não gosta de que lhe deem ordens, mas ele precisa obedecer.

Ele reclama e reclama, mas não faz nada para mudar a situação. Não questiona processos e a cultura daquele local. Obedece regras sem sentido. Parece mais um robô.

Ele não gosta daquele lugar e Ele faz questão de que todos saibam disso. Ele faz de tudo para maximizar a quantidade de trabalho não realizado. Mas, por algum motivo, Ele acorda cedo para ir até lá. Todos os dias. E Ele precisa ser pontual.

No fim do dia, Ele retorna para sua casa. Estressado com o trânsito caótico. Frustrado, porque amanhã começa tudo de novo. E Ele mal pode esperar por suas férias.

Ode à Rebeldia

Vejamos a nossa sociedade moderna. Que tipo de postura você acha que ela valoriza? O rebelde, do contra, que não gosta de regras e não gosta de tradições, questionador. Ou o politicamente correto, tradicionalista, homem de família, nunca fala mal de ninguém, nunca dá sua opinião, tem casa própria, carro na garagem, é um orgulho para os pais, vota em toda eleição. Não é tão difícil responder.

É claro que a sociedade valoriza a média. Se analisarmos sistematicamente, o medíocre é o que possui mais chances de  “sobreviver”. Ato contínuo, possui mais chances de perpetuar sua espécie.

Em uma sociedade que valoriza a média, quem se afasta dessa média começa a correr mais riscos. Mas junto com os riscos, vem grandes resultados.

Digo riscos, porque, ser contra algum sistema estabelecido o torna automaticamente um alvo. Isso acontece porque o sistema defende a si próprio. Leia sobre a Caverna de Platão. Mas se não estiver convencido, basta ler a Bíblia, mais precisamente o Novo Testamento, ou ler livros de História, tem muitos casos lá também.

Um rebelde não toleraria uma situação incômoda por tanto tempo quanto uma pessoa ordinária. Ele faria o que costumamos chamar de chutar o balde. Não que uma pessoa ordinária não tivesse essa capacidade, mas o rebelde faz isso com mais frequência. O rebelde tem uma tendência maior de questionar autoridades e pessoas ordinárias geralmente evitam conflitos.

É claro que a maioria das pessoas não gosta de rebeldes. Isso porque eles perturbam a ordem vigente. Por que muitos ordinários querem o retorno de militares ao poder? Porque acreditam que eles podem manter a ordem. Mas o que acreditam ser normal pode ser algo extremamente perturbador, como a Caverna de Platão.

Sobre perpetuar a espécie, sim, os assim chamados diferentões (maldito facebook) geralmente tem poucos filhos comparados às pessoas ordinárias, – vamos chamá-las de “normais” a partir de agora. Meio louco não? Eu realmente acredito que as pessoas normais tem mais filhos que os perturbados.

Ser diferente não é bom. Ser diferente é melhor

Em 1955 Rosa Parks, uma mulher negra, se negou a dar seu lugar num ônibus para uma mulher branca e foi presa. Um ato de rebeldia que catalisou uma série de eventos que mudaria o mundo para sempre.

Recentemente conheci um pouco mais da vida de Martin Luther King. Um pastor, ministro Batista, casado, pai de família. Uma pessoa ordinária com uma vidinha mais ou menos? Não, ele não era. Ele era um forte ativista político pelo direito dos negros e adepto da desobediência civil. Uma das primeiras grandes conquistas de seu ativismo foi a de tornar ilegal a discriminação racial em transportes públicos.

Quando Luther King começou a perturbar a ordem vigente – assim como Platão, no século IV a.C., disse que aconteceria – foi ameaçado de morte. E de fato foi assassinado em 1968. O sistema não perdoa rebeldes. No entanto, Martin Luther King mudou as coisas.

Giordano Bruno questionou a autoridade em uma época em que diferentões eram queimados em fogueiras. E de fato, ele foi queimado em uma fogueira. Darwin quase não publicava seus estudos sobre a origem das espécies, porque sabia que outros antes dele haviam sido severamente punidos por defender tais ideias.

E falando em fogueiras, muitas mulheres que andavam fora da faixa da normalidade, foram queimadas acusadas de bruxaria. Ainda bem que a Santa Inquisição acabou não é mesmo? Mas se, hoje em dia, uma mulher tiver uma tatuagem no pescoço ou um vídeo intimo vazado na internet, adeus vida social. Parece que o julgamento de ordinários virou um tipo moderno de Inquisição.

Sim, andar fora da curva tem um preço alto. E ainda hoje pessoas que pensam diferente são hostilizadas. Geralmente, diferentões querem mudanças que a maioria das pessoas não deseja. Mas ser diferente também tem seu lado bom.

Vejamos uma galera diferentona que é conhecida como ciclistas. Um modal que está na moda. Quando saio para uma trilha e passo por ramais estreitos no meio do mato em alta velocidade, ou quando vou para um passeio noturno com algum grupo, fico pensando como tem pessoas que hostilizam isso? Como? Como existem pessoas que são contra o ciclismo? Pedalar é muito bom! É triste saber que determinadas pessoas irão morrer sem nunca conhecer locais que só pessoas que se arriscaram tiveram acesso.

O quanto que diferentões empurram a sociedade para frente, enquanto que os normais apenas sobrevivem? O quanto que, diferentões como Aaron Swartz afetam sua vida e você nem se dá conta? Aaron Swartz que, por sinal, foi suicidado por pensar de forma diferente.

Precisamos de mais diferentões

Apesar do fato de que diferentões são empurrados para as margens, no final das contas, são eles que mudam as coisas. Isso nada mais é que Gauss vs Pareto. Os normais estão de acordo com Gauss, os inovadores estão com Pareto.

A verdade é que as pessoas tem medo de pensar e agir de forma diferente do padrão. Por que será que existe tanta gente trabalhando em empregos os quais odeiam, fazendo coisas que odeiam? Porque foram condicionadas a pensar que elas não tem opção. E que elas precisam se sacrificar. Não será um ato de covardia você não poder fazer o que quer, e responsabilizar terceiros por suas frustrações? “Faço isso por meus filhos”. Não! Não coloque essa carga sobre seus filhos ou quem quer que seja.

Há alguns anos atrás, o Tá Safo bateu de frente com o sistema. Começou a fazer e falar sobre práticas que iam de contra o modelo tradicional. Um bando de diferentões. Quem pensam que são? É óbvio que foram hostilizados por isso. O sistema não perdoa. Mas hoje, o Tá Safo é referência em desenvolvimento ágil e boas práticas em desenvolvimento de software no país inteiro, ajudando a trazer grandes oportunidades para a região.

É disso que precisamos. De pessoas que quebrem o status quo. Que sejam agentes de mudança. Não precisamos dos normais, do ordinários. Eles não fazem nada. Os loucos é que fazem. Eles que causam desordem. E se as empresas tradicionais não os quiserem, nós os queremos. E se você quer ser mais um acorrentado na caverna, que seja. Mas não menospreze aqueles que são livres.

E caso você tenha conseguido chegar até aqui, esqueça tudo que eu falei. Sou meio doido!

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